quarta-feira, 21 de novembro de 2007

AGUARDE!! ENTREVISTA COM A ATRIZ GABRIELA HESS E NOVIDADES SOBRE SEUS CONTOS CIGANOS!


"Folias Mostra Tudo VI"! Grupo divulga programação especial de fim de ano


Para mais informações: www.galpaodofolias.com.br

Satyrianas: Festa do teatro invade a Praça Roosevelt e colore o centro velho de SP com muita arte e improviso


Fotos: Patrícia Rocco

Pela primeira vez participei do "Satyrianas - Uma Saudação à Primavera", o maior evento teatral do país promovido pela cia. Os Satyros. A experiência de quase 4 dias dormindo pouco foi muito interessante pois, além de compartilhar com as pessoas lá presentes o momento especial, pude ter uma nova visão acerca dos "fazedores" de cultura da cidade.

No dia 11 de outubro foi dada a largada para 80 horas de atividades culturais ininterruptas, como leituras dramáticas, saraus, shows, cafés literários, debates, palestras e espetáculos que acabaram somente no domingo, 14.

A Praça Roosevelt (centrão velho de São Paulo), palco da comemoração, ferveu. Público e artistas circularam livremente pela grande festa e o relógio foi a última preocupação. Durante os quatro dias, tardes, noites e madrugadas, a disposição da galera e a alegria da reunião foram o cenário perfeito para a confraternização na praça e seus arredores.

A idéia da vigília cultural surgiu há 16 anos e, a cada primavera, vem reunindo mais adeptos. Ano passado, cerca de 12 mil pessoas acompanharam a programação. Este ano, sob o tema "O Ator e Seu Personagem", a 8ª edição do evento (entre 1992 e 1999 a companhia esteve em Portugal), contou com mais de 200 peças que foram oferecidas ao público no melhor sistema 'pague quanto quiser ou puder'.
Isso sem falar no DramaMix que reuniu 78 dramaturgos, respectivos diretores e cerca de 200 atores para fazer a leitura encenada de textos em intervalos de uma em uma hora.

Tudo isso debaixo de uma lona com capacidade para 200 pessoas erguida especialmente para esse fim.

O Satyrianas envolveu nessa ação outros grupos de teatros de toda a capital. Dentre os participantes estiveram o Espaço Parlapatões, Galpão do Folias, Teatro Bibi Ferreira, Tusp e até o Museu da Língua Portuguesa que apresentaram seus
espetáculos a cachês simbólicos, sob o mesmo sistema proposto pela comemoração.
Integração no improviso da arte - Mas o que mais me chamou a atenção foi a disposição das pessoas que, em plena 2 da madrugada de sexta-feira, curtiam descompromissadamente o som de uma banda montada estrategicamente no meio da praça. Ali eram recitados poemas e qualquer pessoa que quisesse "mostrar sua arte" podia entrar e se instalar. Um verdadeiro sarau a céu aberto. Assim mesmo, no improviso.
Meu segredo - Durante os quatro dias de evento, o público recebeu também cartões-postais para colocar ali suas confidências amorosas. Não era necessário se identificar. A iniciativa fez parte da ação "Meu Segredo" que utilizará tais confidências no estudo e confecção do enredo da peça Hipóteses para o Amor e a Verdade, previsto para estrear em 2008, em um dos espaços dos Satyros.

Desejo vida longa às Satyrianas! Esse grande encontro com a arte, com a emoção humana e com a beleza da celebração à vida a céu aberto. No passo dessa dança, o colorido se fez presente e a paixão com que esses artistas se debruçaram em seu fazer teatral contagiou os espectadores que, como eu, deixaram a velha praça com os olhos mais brilhantes.

Para saber tudo o que rolou nas Satyrianas, entre no site: http://www.blogger.com/www.satyros.com.br

Momentos da festa:


terça-feira, 20 de novembro de 2007

Il Postino: Massimo Troisi emociona em 'O Carteiro e o Poeta'

Último filme do ator e roteirista italiano Massimo Troisi, "O Carteiro e o Poeta" (Il postino, 1994) se passa em uma isolada ilha do Mediterrâneo (década de 50) na qual o poeta Pablo Neruda (Philippe Noiret) se exila por razões políticas. Lá conhece Mario Ruoppolo (Massimo Troisi) - o carteiro quase analfabeto, seu fã - com quem acaba fazendo uma bela amizade.

A partir da convivência próxima entre os dois, o poeta tenta ajudar - por meio da poesia - o pobre carteiro a conquistar a bela dama por quem é apaixonado. No meio desse processo, Mario Ruoppolo vê sua vida sendo transformada a partir do contato com as palavras e do aprendizado com o chileno Neruda.

A história é baseada no livro do escritor chileno Antonio Skarmeta, "Ardiente Paciencia" e é a segunda versão para as telas do romance. A primeira, dirigida pelo próprio escritor, em 1983, recebeu o mesmo título, e o filme, assim como na história original, se passa no Chile durante o governo Allende.

O ator e roteirista Massimo Troisi, 41 anos, que sofria de uma cardiopatia, morreu no dia seguinte ao término das filmagens.

Prêmios e indicações:
* Oscar na categoria de Melhor Trilha Sonora Original, composta por Luis Enríquez Bacalov - 1996 (EUA)
* Indicado para os prêmios de Melhor Ator (Massimo Troisi), Melhor Diretor, Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado - 1996 (EUA)
* Melhor filme estrangeiro pela Academia Japonesa de Cinema - 1997 (Japão)
* Melhor Filme em Língua Não Inglesa - 1996 - BAFTA (Reino Unido)
* Prêmio Anthony Asquith para música de filme - 1996 - BAFTA (Reino Unido)
* Prêmio David Lean como melhor direção - 1996 - BAFTA (Reino Unido)
* Indicado nas categorias de Melhor Atuação de Ator Protagonista (Massimo Troisi) e Melhor Roteiro Adaptado - 1996 - BAFTA (Reino Unido)
* Melhor Edição - 1995 - Prêmio David di Donatello (Itália)
* Indicado na categoria Melhor Música - 1995 - Prêmio David di Donatello (Itália)
* Melhor Filme Estrangeiro - 1996 - Prêmio Sant Jordi (Espanha)
* Prêmio da Audiência como melhor filme - 1995 - Mostra Internacional de Cinema SP (Brasil)

Neruda: - Querer não é importante. As imagens devem surgir espontaneamente.

Ruoppolo: - Você quer dizer que o mundo todo, o mar, o céu com a chuva, as nuvens... o mundo todo é, todo ele, metáfora de alguma outra coisa?"

domingo, 18 de novembro de 2007

Dramaturgias: Leituras e debates sobre dramaturgia contemporânea no CCBB-SP

Em São Paulo há opções culturais pra lá de boas e baratas. E, neste caso, é de graça mesmo!

Dramaturgias é um programa do Centro Cultural Banco do Brasil (SP) voltado para a leitura de textos da literatura dramática contemporânea, seguida de debate com mediador, autor, diretores e atores.
Esta iniciativa acontece desde 2002 e, a partir dela, diversas peças teatrais tornaram-se realidade nos palcos brasileiros.
A próxima e última leitura será "O Mistério das Marias", de Cristina Mato Grosso. Dia 28/11, às 20hs, no Centro Cultural Banco do Brasil, Centro, SP. Tel. (11) 3113-3651 ou bb.com.br/cultura. Os ingressos - grátis - podem ser retirados com 30 minutos de antecedência, na bilheteria do espaço.

Revelando autores fora do eixo Rio-SP
Neste segundo semestre, o ciclo Novos Talentos do projeto Dramaturgias prestigiou o trabalho de autores consagrados e premiados fora do eixo Rio-SP.

A escolha foi de José Eduardo Vendramini, consultor do programa (dramaturgo, diretor e professor titular de Direção Teatral na USP), e teve por objetivo prestigiar escritores pouco conhecidos do grande público mas que, segundo ele, vêm traçando suas trajetórias com trabalhos consistentes, intensos e provocadores. São eles: José Mapurunga (Auto do Rei Leal), Marcos Barbosa (Avental Todo Sujo de Ovo), Ivo Bender (As Núpcias de Teodora) e Cristina Mato Grosso (O Mistério das Marias).

Diálogo com outras obras, outras cenas, outros artistas
Outro fator de destaque é que as quatro obras escolhidas dialogam com outras obras e gêneros teatrais, ou com fatos históricos ou com artistas popularmente conhecidos e que trazem forte carga emocional ao público. Nestes textos, os autores estabelecem uma livre e criativa "conversa" com referenciais artísticos existentes. Veja:

* AUTO DO REI LEAL - faz referência direta ao rei Lear, de Shakespeare.

* AVENTAL TODO SUJO DE OVO - homenagem à Clara Nunes - que renasce em cena.

* AS NÚPCIAS DE TEODORA - livre referência histórica à revolta dos Muckers. Retoma elementos da tragédia grega.

* O MISTÉRIO DAS MARIAS - retoma obra de Gil Vicente. Neste caso, um auto de Natal em forma de cordel.

Sinopse das Leituras, Direção e Elenco

* AUTO DO REI LEAL, de José Mapurunga

Texto inspirado em imagem encontrada no conto popular de várias culturas do mundo, cujo conflito é desencadeado quando um velho pai divide seus bens e o seu poder e, confiando no amor, entrega-se aos cuidados dos filhos, recebendo como pagamento a ingratidão. O enredo e personagens como o Rei Leal e as três filhas parodiam o Rei Lear, de Shakespeare, para colocar em questão a situação do idoso hoje. Escrita em versos de sete sílabas (redondilhas) e com a mesma disposição matemática de rimas da literatura de cordel, a história acontece numa atmosfera atemporal, em que se mesclam elementos contemporâneos e arcaicos e personagens atualíssimos, como o Catador de Lixo e o gigolô Barão do Pau Maior, decisivos no enredo.

Direção: Ilo Krugli. Elenco: Grupo Ventoforte.

* AVENTAL TODO SUJO DE OVO, de Marcos Barbosa

Há uns vinte anos, o menino Moacir fugiu de sua casa no interior do Brasil, sem deixar rastro ou notícia. Desde esse dia, as vidas de Antero e Alzira, os pais, se resumem ao cotidiano de uma cidade esquecida, entre a igreja, a praça e a casa da vizinha Noélia. Cada um ao seu modo, eles remóem dia-a-dia a lembrança da perda do filho e a dolorosa esperança de que o menino Moacir esteja bem onde estiver, de que ainda se lembre dos pais, de que um dia retorne ao lar abandonado. Um dia, enfim, Moacir volta, mas já não é mais um menino.
Direção: Antonio do Valle. Elenco: Denise Del Vecchio, Roberto Arduin, Maria do Carmo Soares e Dagoberto Feliz.


* AS NÚPCIAS DE TEODORA, de Ivo Bender
Cristóvão Hagemann, adepto da seita Mucker, vê-se obrigado a mandar buscar a filha primogênita. O comando parte de Jacobina, líder espiritual do grupo, que afirma ter recebido ordem divina: para que os Mucker saiam vitoriosos em iminente confronto com o exército imperial, Deus exige a imolação da filha primogênita de Hagemann. Assim, sob o pretexto de casar a filha com um dos companheiros da seita, Hagemann obriga a menina a viajar para o acampamento.

Direção: Antonio Gilberto. Elenco: Luiz Guilherme, Lilian Blanc, Renata Zanetha, Javert Monteiro, Clarissa Rockenbach, Tony Giusti, Danilo Grangheia e Fábio Toro.

* O MISTÉRIO DAS MARIAS, de Cristina Mato Grosso
A peça, escrita em forma de cordel, trata do nascimento de Jesus e da Peregrinação de Maria e José com os anjos, até o nascimento de Jesus. Maria é socorrida por uma Maria Profana e o menino nasce num esconderijo de cangaceiros, tendo por padrinho o famoso Jesuíno Brilhante, cangaceiro do século XIX.
Direção: Romero de Andrade Lima. Elenco: Grupo Circo Branco

Misen-en-Scène no Digestivo Cultural

Artes, cultura e mundo da lua

Obrigada, Julio, pela força!
http://www.digestivocultural.com/blog/post.asp?codigo=1674

Guerreira Clara de todas as canções

"Seu brilho parece um sol derramado
Um céu prateado, um mar de estrelas
Revela a leveza de um povo sofrido
De rara beleza que vive cantando
Profunda grandeza.
A sua riqueza vem lá do passado
De lá do congado, eu tenho certeza"...

Identidade - Melhor Curta-Metragem na categoria documentário


Após meses de intensas atividades de produção, dedicação total à agenda das mais diversas fontes e todo o caos que envolve a "confecção" de um documentário jornalístico amador, "Identidade" foi eleito o melhor curta-metragem na categoria documentário no II FECUNI (Festival de Curtas Universitário).
Produzido pela equipe do Tia Emídia, produtora recém criada por três jovens que ainda nem saíram dos bancos da universidade, o projeto nasceu a partir da questão: "Quem é você?" E assim seguiram. Elegeram as fontes e, com treze perguntas, para onze pessoas, montaram o vídeo vencedor.

O projeto deve prosseguir, segundo seus idealizadores, 2008 adentro. A idéia agora é melhorar a pós-produção e encarar alguns festivais, como o de Gramado, por exemplo. Boa sorte, meninos!

Mais informações e um drops de "Identidade" na postagem de Outubro. Confira aqui:

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

UMA PAUSA OBRIGATÓRIA!

... Enquanto isso em Brasília, o gerúndio é “demitido”...
A inédita demissão foi feita pelo governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, que demonstrou - com essa atitude - que pouco ou nada sabe sobre as regras da Língua Portuguesa

Saiu no Diário Oficial!! O gerúndio está demitido de todos os órgãos do Distrito Federal. E por decreto!

A patacoada aconteceu em 28 de setembro quando o governador, cheinho de coragem, estufou o peito, pegou sua caneta e gloriosamente assinou a medida que proíbe, a partir do dia 01/10, a utilização do tempo verbal nos órgãos governamentais. Segundo ele, “o uso do gerúndio é uma desculpa para a ineficiência".

Mas... será que o excelentíssimo governador não está confundiNDO o gerúndio com o tal do gerundismo - uma verdadeira praga nos discursos proferidos no serviço público e nos call centers nacionais?

Vejamos:

O gerúndio é uma forma nominal do verbo, invariável, formada pelo sufixo "ndo", normalmente usada para expressar sentido de continuidade de uma ação. Seu uso é perfeitamente aceitável e, mais que isso, faz parte das regras gramaticais da Língua Portuguesa. Por exemplo: “Não me ligue ao meio-dia, pois vou estar almoçando”.

Já o que se convencionou chamar por ‘gerundismo’ é a utilização exagerada e desnecessária dos recursos do gerúndio. Você já não se irritou com expressões como “Vamos estar providenciando seu cadastro”, “Eu vou estar transferindo o senhor para o departamento responsável”, etc? Então... esse é o maledeto discurso que inundou os falares brasileiros por influência direta da língua inglesa.

Vamos mandar o governador para Portugal!

Já que o gerúndio está proibido em Brasília, temos duas opções: ou mandar o político para Portugal (onde utilizam o infinitivo da mesma forma que nós nos valemos do gerúndio no Brasil) ou teremos mesmo de nos acostumar com os assessores do governador falando mais ou menos assim:
- “O governador não poderá atendê-lo, pois está a almoçar.”

Quá, Quá, Quá.

Eis a íntegra do decreto. DIVIRTA-SE!

DECRETO Nº 28.314, DE 28 DE SETEMBRO DE 2007.
Demite o Gerúndio do Distrito Federal, e dá outras providências.
O GOVERNADOR DO DISTRITO FEDERAL, no uso das atribuições que lhe confere o artigo 100, incisos VII e XXVI, da Lei Orgânica do Distrito Federal, DECRETA:

Art. 1° - Fica demitido o Gerúndio de todos os órgãos do Governo do Distrito Federal.
Art. 2° - Fica proibido a partir desta data o uso do gerúndio para desculpa de INEFICIÊNCIA. Art. 3° - Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. Art. 4º - Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 28 de setembro de 2007. 119º da República e 48º de Brasília

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

"Identidade" - documentário curta-metragem - vem chegando!

Mas enquanto não chega, fique com a prévia!

Quem é você?

Em treze perguntas. Para onze pessoas.

Assim nasceu o documentário curta-metragem “Identidade”. Para desvendar o grande mistério de cada um de seus entrevistados que vivem na cidade-luz do Brasil. Cada um com suas verdades, crenças, experiências e visões de mundo... Revelados pelo realismo da lente e desnudos pelas próprias palavras.

“Identidade” tem como proposta mostrar o que cada indivíduo guarda de mais profundo dentro de si, revelando pouco a pouco, a cada gesto, a cada olhar, a sua essência. A tal da identidade.



Exibição amanhã no II Fecuni - Festival de Curtas Universitário! Entrada Franca.

* II FECUNI - Festival de Curtas Universitário.
Dias 3, 4 e 5 de outubro de 2007, 20h.
Auditório Fernando Henrique Cardoso - Universidade Cruzeiro do Sul. Campus Anália Franco, São Paulo.

Identificados:
Carlos “Careqa”, Cláudia Nascimento, Cláudia Wonder, Eda Lima Meira, Eduardo José Martins Jr. - “Dudé”, Fuad Miguel, Margareth Bernardinelli Morato, Moshe Pollacseck, Patrícia Rocco, Vitor Mizael e Leidiane Rocha Dias.

Trilha Sonora:
"DNA - De Nada Adianta" - André Luís Assef
"Ser Igual é Legal" - Carlos Careqa

Produtora: Tia Emidia Comunicação
Equipe:
João Cotrim, Virgínia Delfino, Tomás Lombardi, Luis Wagner Di Palma, Fabíola Loyolla

domingo, 30 de setembro de 2007

Tragédia de Ésquilo ganha tom contemporâneo no canto ideológico do Folias

Dagoberto Feliz e Patrícia Barros em cena de Orestéia

Um dos grupos teatrais de maior expressão do cenário nacional, o Folias comemora 10 anos de vida com ousadia e traz à cena a tragédia grega “ Orestéia”. No espetáculo, a trupe propõe reflexões críticas acerca do modelo de democracia instaurado no mundo ocidental, traça paralelos com a história dos países latino-americanos e do próprio movimento teatral.

Por Patrícia Rocco
Fotos: Joana Mattei

Com reflexões nada ingênuas sobre questões existenciais, políticas e sociais, o grupo Folias chega aos 10 anos e nos brinda com uma proposta que salta aos olhos: “Orestéia – O canto do Bode”.

E foram longe... Escolheram a tragédia de Ésquilo (obra-prima do mundo grego, escrita no século V a.C.) para - numa riquíssima versão do clássico - fazer uma reflexão sobre a criação da democracia (surgimento do Estado grego), sobre como esse modelo influenciou a formação do continente latino-americano e toda a violência que se seguiu borrando de sangue e luto grande parte de nossa história.

Conduzida ironicamente por um simpático palhaço (interpretado pelo excelente ator Dagoberto Feliz) de sorriso doce, expressão amável e olhar melancólico, a montagem surpreende. Ao adentrar o Galpão do Folias, o espectador é surpreendido por um cenário sombrio, com paredes descascadas, restos de cenografia e poucas – por vezes, velhas – cadeiras para sentar. Antes mesmo de a peça começar, surge o primeiro paralelismo simbólico entre a tragédia grega e as tristes condições em que vivem os países latino-americanos e (por que não?) o fazer teatral no Brasil.

Essa salada é apimentada ainda com ingredientes de muita criatividade, originalidade e força cênica. Durante todo o espetáculo, somos convidados a romper os muros da convenção e decifrar as inúmeras metáforas propostas pela inteligente montagem de Marco Antonio Rodrigues e Reinaldo Maia. Tente imaginar Agamêmnon e Palas Atena numa possível referência ao populismo; Clitemnestra e Egisto na encarnação exacerbada da terrível face da tirania e Orestes, a democracia. Soma-se a isso o desafio da leitura às analogias e inserções feitas a todo o instante como a citação da carta testamento de Getúlio Vargas ou mesmo o bizarro radinho de pilhas tocando músicas de Roberto Carlos...

Orestéia é uma crítica ácida às mazelas humanas em muitas esferas de suas manifestações. Neste trabalho, os foliões da rua Ana Cintra destilam uma verborragia cortante e inundam a platéia com indagações sobre o papel do artista na sociedade, o fenômeno midiático da espetacularização das artes, a manipulação da informação e do poder, além da vergonhosa participação e contribuição dos veículos de massa neste processo.

O que não faltam são inserções estéticas e verbais como referência ao período do populismo, às atrocidades cometidas pela ditadura em nome da democracia (anos 50 e 60), à poesia triste da volta dos exilados (anos 70 e 80) e, por fim, o processo de redemocratização. Aqui a promessa política nunca cumprida de um mundo mais justo e do poder mais próximo ao povo (últimas décadas do século XX).
E é em meio a esse desfile de fatos caóticos que o palhaço-corifeu relembra, brada e emociona ao entoar o grito denunciativo de alguns dos mais tristes acontecimentos da história latino-americana. “Quem poderia negar-me agora o direito de recordar estas verdades? (...) As milhares de vítimas da ditadura Argentina, torturadas e assassinadas pelos generais de plantão em defesa da democracia. (...) A prisão, a tortura e o assassinato de milhares de brasileiros pelo golpe militar de 1964, alegando a defesa da família, da tradição e da propriedade. (...)”. Em outro momento, de olhos semivendados e, em tom debochado, sugere: “Na balança da Justiça, o prato da aprendizagem desce para aqueles que sofreram”.

Impacto Estético – Além da experiência da linguagem dramática muito bem explorada pelos afinados atores, o espectador de Orestéia é surpreendido também pelo impacto estético que a peça propõe. O espaço cênico é surpreendente com elementos cenográficos compostos por aparatos que nos remete ao caos, a escassez de recursos. E, mais uma vez, o tom denunciativo surge em meio à criatividade que permite, por exemplo, a concepção de um narrador que empunha um ventilador e segue em cena borrifando água para mostrar os ventos que levavam as naus de Agamêmnon rumo à Tróia.

Os célebres personagens de Ésquilo são desconstruídos esteticamente e aparecem em cena ora como maltrapilhos guerrilheiros cansados do combate, ora desnudos, ora revitalizados pelos ares revolucionários dos anos 60 em suas roupas à la Hair, ora como nossos contemporâneos de terno e celular em punho.

Mas, a concepção da rainha Clitemnestra, interpretada pelo ator Danilo Grangheia, é, sem sombra de dúvida, a menina dos olhos do espetáculo.
Com um figurino exótico e expressões que transitam entre a elegância, tons monocórdios e gestos exagerados, a monarca rouba a cena em atuação que enche o palco e a alma da platéia.

Os olhos pintados de negro reforçam a idéia do espírito maligno da monarca, destaca a expressão dissimulada e os olhares fulminantes que lança sobre seus subalternos, incluindo aqui os espectadores que ela também tenta seduzir, utilizando-se de excelentes recursos dramáticos, a fim de conquistar apoio em seu julgamento.

A entrega do ator ao personagem e o resultado que consegue com Clitemnestra são dignos de reconhecimento além aplausos.

Durante o julgamento do crime de matricídio cometido por Orestes para vingar a morte do pai Agamêmnon brutalmente assassinado pela esposa traidora, Clitemnestra, o público é envolvido na cena e decide – por meio do voto - o destino de Orestes. A deusa Palas Atena surge como símbolo de Justiça e Sabedoria e toma frente do tribunal, instituindo assim a democracia. Mas, surpreendentemente, o resultado do julgamento é idêntico ao da obra original, não dependendo da contagem dos votos. E aqui está o pulo do gato! Nesta encenação a opinião popular é o que menos importa, já que a decisão está sempre nas mãos divinas dos poderosos.

Alguma semelhança com Brasil de ontem ou de hoje?

Com este brilhante espetáculo, o Folias nos leva a inúmeras e ricas leituras. Uma dessas possibilidades está na reflexão sobre o papel da tão cultuada democracia e de que forma ela violenta seus cidadãos. Violência moral, intelectual, material, física. De que forma contribui para a manutenção da desigualdade e da contradição num país que abriga taxistas engenheiros e prostitutas diplomadas?

Entre tantos questionamentos propostos, a peça nos presenteia também com momentos de pura beleza poética. A velha canção de Noel Rosa nos toma de assalto quando o simpático palhaço-narrador toca sua sanfona e, com lágrimas aos olhos, cantarola a letra de “Pierrô Apaixonado”. A troca de cenário ao som de “Fim”, do poeta português Mario de Sá-Carneiro, é igualmente tocante e forte.

Após três horas e meia diante de uma verdadeira obra de arte teatral, vem a escuridão. Com ela o silêncio e o instante do aplauso. E nós permanecemos ali. Atônitos.
Orestéia é a celebração da arte exercida em sua máxima potência. Teatro de discussão política e do aprendizado de como resistir no sonho “sem ceder à sedução de uma vantagem”.

Transformador. Imperdível!

Elenco: Atílio Beline Vaz, Bira Nogueira, Bruna Bressani, Carlos Francisco, Dagoberto Feliz, Danilo Grangheia, Flavio Tolezani, Gisele Valeri, Nani de Oliveira, Paloma Galasso, Patrícia Barros e Zeca Rodrigues.

Orestéia – O Canto do Bode
** Em cartaz no Galpão do Folias **
R. Ana Cintra, 213 – Santa Cecília – ao lado da estação Sta. Cecília do metrô.
Tel. (11) 3361-2223

5as. e 6as. às 20hs – R$ 10,00 - promocional
Sáb. às 20h e dom. às 19h - R$ 30,00censura 14 anos, 70 lugares, 190 minutos (com intervalo de 10 min.)Até 04/11