domingo, 20 de janeiro de 2008

"Palhaços" está de volta!

Peça escrita por Timochenco Wehbi mostra encontro entre um palhaço e seu fã e discute o papel da arte e do artista na sociedade contemporânea
Fotos: Divulgação

O texto é da década de 70. Mas a realidade nos mostra que não há nada mais atual do que Timochenco Wehbi, dramaturgo paulista, quis evidenciar com "Palhaços" há mais de trinta anos.

O circo é decadente. Assim como as esperanças e a visão de mundo ultra-realista do palhaço Careta (Dagoberto Feliz).

Benvindo (Danilo Grangheia), o fã, é vendedor de uma loja de calçados, aspirante a gerente e, como fã incondicional do artista - esperançoso por um inocente bate-papo - vai cumprimentá-lo no camarim após o espetáculo. Não sabia, porém, que a proximidade da realização de um sonho poria também à prova as suas mais puras aspirações.

E é exatamente o que acontece quando, o que prometia ser um singelo e agradável diálogo enter fã e ídolo, torna-se um processo de quebra de paradigmas num jogo cênico tragicômico, uma sucessão de malabarismos físicos e mentais que apóiam o encontro das duas personagens e que acabam por mandar água abaixo todas as ilusões que compõem a relação artista x admirador.

Por meio da postura do palhaço Careta, que trava um diálogo contestador com o seu interlocutor, a peça mostra a realidade vivida pelos artistas atualmente, questiona o papel da arte e o que a sociedade contemporânea espera da classe.

Muitos são os pontos de atenção nesta produção. E, a meu ver, o mais interessante deles é a forma como o palhaço tira sua "máscara" e revela o ser humano por trás do artista. Com todas as suas dores, questionamentos, decepções e anseios.

A utilização de elementos cênicos infantis como os truques circenses, as músicas e as brincadeiras, é a antítese que conduz o espectador ao reconhecimento do que vem por trás de um figurino e uma maquiagem bem feita.

E os papéis são claramente invertidos. No decorrer do espetáculo, vemos um homem comum ter atitudes tipicamente clownescas e o palhaço transformar-se em um homem comum adicionando pitadas de atitudes cruéis ao seu comportamento diante do fã.

O desenrolar do espetáculo se dá unicamente pelo diálogo, um ping-pong entre as duas personagens que sustenta um crescente suspense até o final da montagem.

Careta passa a maior parte do tempo gozando o seu fã Benvindo e tira boas gargalhadas da platéia que é levada pelos atores para momentos que se dividem entre descontração e silêncio.

"Palhaços" é uma montagem de cenário simples e conteúdo gigantesco. Adiciona-se a isso o colorido especial que os atores Dagoberto Feliz e Danilo Grangheia emprestam ao texto com todo o seu talento e o firme propósito de transformar o pensamento. E conseguem. Como sempre.

Abaixo a excelente reflexão do diretor Gabriel Carmona:

Para que serve o artista?

Não há resposta absoluta. Pode até ser perigoso dar utilidade a algo que, por natureza, é inútil, tal qual fazer amor, festejar ou pensar.

Mas mais perigoso, chato e emburrecedor, é o que acontece hoje. Como em muitos momentos da história ocidental, a arte torna-se novamente instrumento moralizante, como um domador de circo, a serviço da ideologia vigente que nos quer amortecidos, apaziguados.

A intenção é clara: levar o indivíduo para longe de si, da sua realidade e dos seus desejos mais profundos e legítimos. Sentimento torna-se sentimentalismo, opinião torna-se senso comum.

Não sabemos a resposta, mas sabemos que o diálogo entre artista e sociedade, como tantos outros, está infantilizado, mecanizado e muito aquém de suas reais possibilidades. A fama é um véu que separa duas pessoas iguais: criador e público. Estamos todos no mesmo barco!

Mas já não basta denunciar, apontar as deformações nas relações sociais, interpessoais e de qualquer âmbito. Agora, é preciso desmontá-las, descobrir o que leva alguns artistas a se colocarem como detentores da verdade salvadora ou prostitutos do dinheiro e da fama.

E descobrir também como parte do público transformou-se em mero consumidor de entretenimento, que não quer pensar, nem ser desafiado ou posto em cheque, mas somente, por alguns minutos, sair dessa vida monótona e maçante para entrar no reino da fantasia, onde o mocinho sempre vence e o mal sempre é o outro.

O espetáculo é uma tentativa desesperada de comunicação, de diálogo. É isso que queremos. (Gabriel Carmona)

Palhaços
Teatro Ópera Buffa - Praça Franklin Roosevelt, 82, Centro, São Paulo.
50 lugares. tel.: (11) 3237-1980. Em janeiro: Domingos às 20h13. Em Fevereiro: Sábados às 21h13 e Domingos às 20h13. Ingressos: R$ 20,00 (meia-entrada - R$ 10,00)75 min. Até 24 de fevereiro.

Ficha técnica
Elenco:
Dagoberto Feliz e Danilo Grangheia
Autor: Timochenco Wehbi
Direção: Gabriel Carmona
Produção: Vitor Souza
Iluminação: Erike Busoni
Téc. de Luz: Marcela Donatus
Cenário: Flavio Tolezani
Figurino: Daniel Infantini

sábado, 19 de janeiro de 2008

"Coisa Boa Pra Você!" em curta temporada

Diversão garantida para sábado à noite, montagem satiriza os vespertinos televisivos

Murillo Flores e sua trupe voltam aos palcos com a peça "Coisa Boa Pra Você!", um programa de TV no qual as situações mais bizarras dos vespertinos brasileiros acontecem.

No melhor do humor sarcástico e inteligente, a montagem diverte ao abordar, com muita ironia, o que os bastidores escondem.

Com merchandisings, números musicais, desastradas aulas de artesanato, entrevistas e até intervalos comerciais, o grupo apresenta um trabalho muito bem elaborado e recheado de críticas nas entrelinhas.

Destaque para Nata$hara$ha e Priscilla Menucci.

Coisa Boa Pra Você!
Espaço Parlapatões
- Pça. Franklin Roosevelt, 158, Centro, São Paulo.
96 lugares. tel.: (11) 3258-4449 - Somente aos sábados às 00hs. Ingressos: R$ 20,00 (R$10,00 meia).
Até 02 de fevereiro.

Ficha Técnica:
Elenco:
Fabrícia Ouriveis, Luciano Assumpção, Murillo Flores, Nata$haRa$ha, Priscila Menucci, Stefany Di Bourbon (Ricardo Cavadas)
Direção: Murillo Flores
Backstage: Paula Tonolli
Figurinos e Adereços: ankh.art.br
Desenhos e Cenários: Lafaete Mont´Alegre
Produção: Humberto Rodrigues
Assistente de Produção: Karina Cardoso

Alguns momentos do espetáculo:
Fotos:
Divulgação

Nata$hara$ha e Ximiju

O merchan de Vitameat Vejamin pela "moça das vitaminas"

Ponto alto do espetáculo: Mein Herr

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Degustação de Histórias

"Contos Ciganos" da atriz Gabriela Hess é uma imersão na cultura gitana pelo despertar dos sentidos. Desfile de sabores e aromas envoltos pela magia de histórias milenares tradicionais

Por Patrícia Rocco

O mundo cigano e todo o seu encantamento. É para onde nos leva a atriz Gabriela Hess com seu projeto que une gastronomia, contação de histórias, ambientação típica, aromas, música e figurinos coloridos.

Durante as três horas de espetáculo, o público é transportado para uma verdadeira experiência sensorial e a uma viagem pela imaginação. Contos ciganos declamados em clima de festa e o tempero especial para essa combinação são os pratos cuidadosamente preparados para envolver ainda mais o espectador nas delícias da cultura do povo nômade.

E Gabriela Hess dá o tom e desperta. É ela quem conduz o espetáculo no papel da contadora de histórias e, com um sorriso de menina, provoca envolvimento. A força com que carrega as palavras é arrebatadora e o gestual expressivo colore a imaginação do público em momentos que transitam por diversos campos da emoção.

Fazendo jus à musicalidade dos ciganos, os contos são acompanhados por melodias típicas e, nos momentos mais expressivos, as atenções recaem sobre o violonista Arthur Iraçu que dita o ritmo e marca o compasso de cada história.

Memória degustativa - Entre uma contação e outra, o jantar é servido. No cardápio, as comidas temperadas por fortes iguarias como gengibre, mel e calda de vinho trazem à tona alguns aspectos da memória degustativa, proporcionando a experiência de ultrapassar fronteiras e viajar pela cultura gitana por meio da degustação.

Maçã assada com farofa de castanha do Pará, laranja com especiarias, sangria, sopa de cenoura com gengibre e mel são alguns dos itens servidos com a assinatura da chef Joana Leis – responsável pela elaboração do cardápio inspirado na culinária originária da Espanha, Andaluzia e Catalunha.
Mas, o ingrediente mais importante dessa cozinha e que costura a proposta de “Contos Ciganos” é o resgate da tradição oral, característica da língua ágrafa dos nômades, um idioma sem forma escrita.
Assim como sua perpetuação que conta somente com a transmissão oral dos conhecimentos, a contação de histórias neste espetáculo pega carona no costume e resgata nas pessoas a capacidade de imaginar. De se deixar envolver pelas palavras e transportar-se para universos (físicos e psicológicos) dos mais diversos.

“Ser contadora de histórias representa alegria no sentido de poder me transformar no outro, olhar o mundo por meio de uma ótica diferente da minha, cultural e existencialmente”, reflete a atriz.

O projeto “Contos Ciganos” conta ainda com o apoio da casa de cultura Estrellas Gitanas, de São Paulo, que fornece elementos de pesquisa e conteúdo cênico para as apresentações como as danças típicas que são realizadas durante o espetáculo.

É com muito exotismo e fascínio que o projeto de Gabriela Hess e sua trupe enaltece e desmistifica a cultura cigana. Traz para muito perto o calor e a energia contagiante dos valores, crenças e jeito de viver desse povo de costumes ruidosos, ornamentados, apaixonados e livres.

"O céu é meu teto, a terra minha pátria e a liberdade minha religião”. (Pensamento Cigano)

Alguns momentos do espetáculo
Fotos: Patrícia Rocco

Gabriela no santuário cigano (Lola Bistrot)

Interação com o público é marca registrada de "Contos Ciganos"

O músico Arthur Iraçu

E Gabriela é pura emoção

Joana Leis, a Chef

A alegria dá o tom do espetáculo!


... e a sensual dança cigana contagia o público

O figurino!

As mãos...

... e o mistério da cigana.

Projeto “Contos Ciganos”

Ficha técnica:
Atriz: Gabriela Hess
Direção: Priscila Harder
Músico: Arthur Iraçu (Violonista e Percussão)
Chef: Joana Leis

** O espetáculo aconteceu no restaurante Lola Bistrot (Vl. Madalena – SP), ano passado.
A agenda de apresentações para 2008 ainda não foi divulgada.